Luis Cernuda
“A J.R.J.
A donzela não anunciava o crepúsculo
Nem possuía jardim onde observá-lo.
Mas ia à janela
Da sua varanda e, corrida a cortina,
Desde ali contemplava.
O crepúsculo nórdico, lento, exige
Ao seu contemplador uma atenção assídua,
Velando o nosso fogo originário
(Para Heráclito a substância primeira),
No seu processo, com celagens e laivos
Delicados, cambiantes.
No fim a ave fabulosa
Partia ao hemisfério
Sombroso agora, deixando para trás de si
Do seu retorno um costume.
E a noite ancestral sucedia
Já não contemplada por J.R.J.”
(p. 32)