Lawrence Durrell
“O Quinteto de Avinhão, de que agora se publica Constance, o terceiro volume, continua o milagre durreliano. O tom, o perfume, o humor, a cor, tudo o que faz o mistério de um homem capaz de descrever o mar como Monet pintava os nenúfares. Este Quinteto de Avinhão é inenarrável. O primeiro volume, Monsieur, o segundo, Lívia, através de um entrelaçado labiríntico iniciavam uma misteriosa viagem através do tempo, do espaço e talvez mesmo do espaço-tempo.
Digamos que é o retrato de uma mulher, que é médica. Digamos ainda que a acção se passa na Provença, no Egipto, na Suíça e de novo na Provença, que estamos no coração da segunda guerra mundial e que Constance, ao sabor das suas aventuras, se choca, se confronta com múltiplas personagens. Tudo isto para dizer que resumir este romance é fazer o mais banal dos retratos-robot, pois não se trata de um romance clássico, de uma narrativa clássica, mas de uma saga de aventuras em que as personagens se entreluzam e fazem sinais entre si, sem que por isso os seus movimentos estejam previamente determinados.
Por uma vez, o romancista não domina a paisagem nem o espectáculo. Por uma vez, as personagens têm o freio nos dentes. Quando são bons cavalos saltam os obstáculos, quando são manhosos, desviam-se, empinam-se e escoiceiam. Nestas imensas tapeçarias, os factos são precisos, mas situados para ensurdecer o murmúrio, o concerto de vozes que não cessa por detrás do pano. À guisa de bússola, há reminiscências históricas. A guerra, o retrato de alguns assassinos e falsos heróis como o nazi Von Esslin, hitleriano de choque. Este terceiro volume do Quinteto é fascinante. Um “trecho” de Proust, trecho no sentido musical, mais uma página inspirada de Eugéne Sue.
Talvez resida aqui a estranha música da obra de Durrell, música insinuante e doce, mas também discordante que me faz esperar impacientemente Sebastian o quarto volume a ser publicado.”
– Henri-François Rey, in “Magazine Littéraire”