Um clássico excêntrico do Modernismo, ainda hoje na periferia do cânone, “Canções para Joannes” foi publicado em 1917 na revista norte-americana Others: A Magazine of the New Verse, depois de as primeiras quatro secções terem surgido no número inaugural da publicação em 1915.
A sequência, onde Mina Loy agrega e transmuta algumas das suas experiências amorosas e sexuais, foi acolhida com reservas e algum escândalo, pelo retrato indecoroso, a um tempo ardente e desencantado, tenaz e clínico, do desejo feminino. Impudico, mas nunca cru: o sexo é palavroso, recobre-se das linguagens, sentidos e associações, que o tentam capturar: do íntimo ao grotesco, da reprodução ao romance, do concreto ao abstracto.
Os traços formais – espaços em branco, travessões, uso irregular de minúsculas e maiúsculas e da pontuação – vincam os hiatos e acentuam a estranheza, violentando a voz lírica, incapaz de conter os excessos e extremos do querer, tanto mais que conjugado no feminino. O timbre dos afectos é também esquivo: a ironia, amarga, não embaça o apego, e a intensidade não deixa vingar a distância. Loy celebra o que renega. E vice-versa.
Chansons sans chanson, como comentou um dos seus editores: uma obra destoante e descabida, laboratório de delírios, onde as tensões nunca encontram ponto de repouso.