Os Arquivos de Bouça Fria partem da caminhada e da observação de um lugar no Gerês.
Em alta montanha portuguesa, na aldeia de Vila Boa, tornámos Bouça Fria no nosso centro, centro desviado a que se chega por caminho de pé́ posto. Território transfronteiriço de transumância agro-pastoril, tão belo quanto duro, são daqui o carvalho, a giesta, a urze e a carqueja, e formas construtivas e organizativas ancestrais – como a do cortelho, dos muros de pedra em junta seca, das mariolas, dos socalcos, da cobertura em colmo e da meda de palha. Dentro do abrigo de animais que é o granítico cortelho, humanos e animais encontram-se, a escuridão envolve-nos e penetra a nossa mente, e, do seu centro, vemos raios e pontos de luz (do sol como da lua) a atravessar o espaço por entre as pedras sobrepostas, e sentimos um pulsar antigo e o abismo do tempo através da confusão de histórias de seres e pedras.
Estes Arquivos organizam e apresentam fotografias, desenhos, pinturas e gravuras, num percurso que corresponde a uma caminhada pelo lugar que se estendeu por dois anos, com desdobramentos e declinações em exposições, uma performance, e agora o livro.
É apenas um hectare, mas afinal parece que cabe lá o mundo.
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