ANOITECER DOS VELHOS AMANTES
As figuras agravam-se atrás dos vidros,
ninhos abandonados em escuras árvores
como os rostos e as vozes que vão ficando
entre as carcaças de um passado perdido.
Costumamos ouvir um concerto a esta hora:
às vezes de roupão e de pijama,
sentados contemplamos a Rambla neste quadro
que em criança já via na minha casa.
Está há tantos anos entre nós,
Raquel, na sala de estar:
a Barcelona dos nossos primeiros anos.
A última que amei.
(p.97)