“PEDRAS
sempre que cá vens isto está cada vez mais
sujo
nem a cidade é o que era nem eu sou o que já
fui
ambos envelhecemos
pedras e unhas e restos e cicatrizes
outras coisas agrafadas na tua ausência
sentamo-nos no alpendre
duvido que a minha presença alguma vez te
satisfaça os olhos
e embora te chegue meia hora para o que vi-
este fazer
tudo em ti demora em mim
enquanto a cidade se decompõe como um sé-
culo velho e decadente
e levas comigo mais um ano meu enquanto
acenas a partida
demoras
demoras como a neura que provocas
levas-me os anos todos
um por um
e quando decidires declarar-me o teu amor
de Lisboa restará uma coluna
de mim restará um osso ruído”
(p.13)