O que é a fotografia? De onde vem a sua força de evidência? Que inédita forma de representação foi criada pela técnica fotográfica? Porque é que as fotografias são objectos paradoxais? E de que forma levantam questões de semelhança? São meras cópias do real ou, mais profundamente, jogam com as forças e os gestos miméticos? O que é um exercício? Porque regressamos recorrentemente a Walter Benjamin para pensar a fotografia? Estas e outras questões deram o mote ao presente livro, que procura aprofundar as relações entre o pensamento filosófico e a fotografia por intermédio de um percurso exploratório por uma região que, embora abarcável pela estética, não encaixa de modo imediato nas compartimentações tradicionais da filosofia.
A apresentação do pensamento é indissociável do modo de apresentação, e um estudo não é apenas o acto de percorrer um caminho, mas também o próprio espaço percorrido.
Neste caso, não há um sentido único, isto é, não se trata apenas de pensar a fotografia recorrendo aos instrumentos filosóficos, aos conceitos e aos autores da filosofia. Trata-se também de fazer – ou tentar fazer, já que a tarefa não é fácil – o sentido inverso: utilizar aquilo que a fotografia, enquanto objecto que assenta numa técnica que se traduz na produção de fotografias, inscreve no pensamento, exigindo a reformulação ou produção de conceitos. Isto implica um espaço de reciprocidade e contaminação entre filosofia e fotografia, pelo que o entre-dois do percurso deve ser visto, não como uma fragilidade, mas como uma virtude e um terreno fértil.