“PÁGINAS que de um livro se soltaram
sem o poderes ler são tuas lembranças.
Marcas de sangue e nódoas no tapete.
No balde espinhas e papéis de embrulho.
Por sobre a mesa carne mastigada,
migalhas de pão e cascas de fruta.
Passas o dia assim, meio enfadado,
vives do que calha, sem reparares.
Até às vezes te tocar um verso,
uma canção antiga, qualquer coisa,
e vês brilhar por dentro uma imagem,
escassa brasa que te ilumina a alma
quais moedas que se agitam no fundo
do tremular da água de uma fonte.
Que vais fazer agora, por exemplo,
com todo o sol da viagem a Roma,
com seu caudal de dias e saudades?”
(p.35)