A GRÉCIA DE QUE FALAS…
A Grécia de que falas não é só ferida.
Às horas esquecidas cafés com engate,
telefonias e tv’s nas varandas,
cor de bronze, corpo de bronze,
batoque de bronze na minha boca.
Nos mosteiros a cola de peixe do sol
ataca como insectos os olhos.
Por trás dos mosteiros as casas estripadas,
estádios, prisões, hospitais,
homens de Deus e aldrabas do diabo
e os guarda-freios que só bebem
vinho ácido de Arákhova.
Aqui dormiram bravos,
de espingarda junto ao flanco,
com as crianças descalças nos seus sonos.
Lenços viajados passaram e foram-se
tapetes e cobertos do lavadouro.
Agora cascalho e botas militares
no descaroçador das rochas
e os guarda-freios que só bebem
vinho ácido de Arákhova.
(p.205)
– um poema de Michális Ganas